segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Roberto Pompeu de Toledo A falta que a neve nos faz Este frio que hoje visita uma parte do país, na maior parte do ano, ele perfidamente nos esquece

Roberto Pompeu de Toledo
A falta que a neve nos faz

Este frio que hoje visita uma parte do país, na maior parte do ano,
ele perfidamente nos esquece

Que é a neve? Nada. Uma água enrijecida, até bonita, quando contemplada com boa vontade, mas que desmancha mais fácil que castelo na areia. A neve tem a consistência dos fantasmas. É como uma miragem, uma ilusão. Não bastasse, é um paradoxo: a água, fluida por definição, ágil, esperta, impossível de ser agarrada na mão, travestida de objeto duro e duradouro, como se fosse diamante. De longe, a neve, nos países em que neva, parece, em sua inocente brancura, uma capa de beatitude deitada sobre a paisagem. Vai ver de perto... Provoca escorregões que tornam a locomoção dificultosa como sobre um colchão de água. Ocasiona quedas que levam ao hospital. E, ao começar a derreter e se misturar ao pó e à terra, vira uma substância barrenta, viscosa, na qual só com repulsa se põe o pé. Quer o leitor que nunca viu neve experimentar a sensação de tê-la por perto? Vá até a poça d'água mais próxima de casa, a mais misturada com terra, jogue algodão sobre ela – eis a neve. Agora pise em cima e terá a sensação de insegurança, desânimo e exposição à sujeira que é tê-la sob os pés. A neve é tudo isso – ilusão, paradoxo, desconforto, sujeira – e, além do mais, sinal de um frio de rachar os ossos e tornar a vida impraticável. No entanto...

No entanto, como amamos a neve! Como nós, brasileiros, a cultuamos, como a temos em alta consideração! Nestes dias de frio, pelo menos da metade do país para baixo, já o frio em si é recebido como um prêmio de distinção. Vestimos os agasalhos (fala-se aqui dos que têm agasalhos, naturalmente), reunimo-nos para comer fondue (os que sabem o que é fondue), e esses simples atos equivalem a uma condecoração. Somos como que agraciados com a medalha da civilização. Sim, porque no fundo é disso que se trata. Frio, para nós, é civilização. Inverno é cultura. Isso quanto à simples incidência do frio. E quando cai neve, então, nas parcas e isoladas regiões do país em que isso acontece – Gramado, São Joaquim? Então, é a euforia. Os boletins meteorológicos anunciam: "Vai nevar esta noite na Serra Gaúcha!", como se anunciassem que vai cair ouro do céu. As televisões exibem as imagens, e os jornais as fotos, como testemunhos de um triunfo, mais uma conquista brasileira – como uma vitória no futebol contra a Argentina, como um feito diante do qual a Europa inescapavelmente se curvará.

O jornalista e historiador Matthew Shirts, americano radicado no Brasil, muito fascinado pela cultura brasileira e pelas comparações entre o Brasil e os Estados Unidos, escreveu, numa de suas últimas colunas no jornal O Estado de S. Paulo, que o brasileiro "se vê como um ser tropical". "Faz parte de sua identidade", acrescentou. "Canta a música Moro num País Tropical de boca cheia, de norte a sul. O frio não cabe na sua auto-imagem." O brasileiro que Shirts tem em mente é possivelmente o mulato inzoneiro, torcedor do Flamengo – o brasileiro do povão. Sim, este tanto se assume como ser tropical que tem medo do frio – medo mesmo, como medo de onça. Há brasileiros que têm medo de São Paulo por causa do frio – até de São Paulo, que não é nenhuma Estocolmo, e nem mesmo Porto Alegre. "Lá faz muito frio", dizem, e sublinham a expressão com a ênfase de um esconjuro. Mas há brasileiros e brasileiros. Há outros para os quais a condição tropical é como doença a ser estoicamente suportada – pois sua alma está lá longe, nas esferas temperadas onde moram a beleza e a sabedoria. Eis mais uma clivagem entre os brasileiros: o frio os separa. Aqueles que se ajustam mal à condição tropical, que identificam no calor o sinal de vergonhosa inferioridade – esses são vítimas de uma insistente e dolorosa nostalgia da neve.

Não é de hoje que é assim. Vejam-se os quadros ou fotografias do Brasil do século XIX – não o Brasil dos escravos descalços e de torso nu, mas o Brasil dos senhores: todos de fraque, ou envolvidos em casacos de grosso tecido, golas altas, luvas, polainas. Reinava uma aparatosa simulação de frio. O Rio de Janeiro da época não era diferente do de hoje. Um calor de 40 graus sufocava a cidade. No entanto, os figurantes da corte, à custa de patriótico suor, cumpriam o papel de exibir-se condignamente encasacados – uma obrigação que deviam aos princípios mais comezinhos da educação e da inteligência. Eles faziam a sua parte. Pena que a paisagem não fizesse a sua, e o Pão de Açúcar não se apresentasse, alguns meses por ano, coberto de neve. Dessa perfídia da natureza resultava que a simulação só podia ir até certo ponto. A realidade de um sol indecente acabava por desmoralizá-la.

Hoje, não é que finjamos ter frio. Nesse ponto, evoluímos. Mas a euforia causada, a cada ano, pela notícia de que nevou em São Joaquim prova quanto o prestígio da neve continua intocado entre nós. É como se, no resto do ano – e como sobra ano, depois da efêmera visita de uns parcos flocos de neve –, a paisagem nos traísse. Se fosse diferente, se a neve recobrisse com mais constância, e de maneira mais abrangente, o território nacional – ah, aí não teríamos tanta ignorância, nem tanta indolência, nem tantos escândalos políticos.


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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Comentario sobre o livro "Do Bauhaus ao nosso Caos" de Tom Wolfe

Apesar de nao ser arquiteto, achei o livro muito acessivel a leigos como eu.
Nao tenho conhecimento tecnico para poder argumentar com um profissional, mas concordo com quase tudo que Tom Wolfe escreveu.Este usou_na minha modesta opiniao_um exemplo bastante plausivel para justificar sua mais desbragada diatribe: a falta de bom senso em muitas construçoes de orientaçao modernista. A tal casa de telha reta,construida na alemanha, foi "um chute nas partes" naquilo que o empirismo milenar germanico legou aquelas plagas: o pratico e adequado chale.
Marcelo Amancio da Silva | Homepage | 12.10.08 - 10:30 am | #

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Comentario sobre o AI-5

Enviado por: Marcelo Amancio da Silva
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Boa tarde,Nassif.

So nas utopias e que encontramos pessoas e lugares perfeitos.Gostaria que com seu prestigio e fluidez,voce comentasse o que de positivo nos legou o AI-5.Nao nos esqueçamos que nem todos os militares tinham mentalidade de caserna;muito pelo contrario.Existia um setor_Divina Providencia!!_bastante progressista que foi responsavel por uma infra-estrutura pra la de razoavel.E bota razoavel nisso!!Houve investimento maciço em estradas,portos e telecomunicaçoes.Tentou-se_sem sucesso,infelizmente!_criar uma reserva de mercado para uma justa e ousada industria de informatica genuinamente brasileira.Impediu-se que grupos do ambientalismo internacional atrapalhassem a conclusao de Itaipu binacional.
Concluindo,o lado bom nao foi tao ruim assim.Ja o lado ruim...
08/12/2008 12:59
Respondido por: Luis Nassif
Marcelo, o AI-5 foi uma excrescência construída por civis e militares, contra a opinião de civis e militares democratas.
08/12/2008 13:58

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

COMENTARIOS

Enviado por: Marcelo Amancio da Silva (Comentar) | Fechar [ x ] Prezado Luis Nassif,

Parafraseando o Cazuza, a atual crise global e "um museu de grandes novidades".Guardadas as devidas(e grandes) diferenças historicas,o "crack" da bolsa de NY e a atual recessao americana, teve e esta tendo um impacto funesto na economia mundial_ to chovendo no molhado!!. Porem, ha de se ressaltar que enquanto o Brasil de la, saia de uma especie de feudalismo-de-coroneis(um zero a esquerda capitalista);o Brasil de ca, tem uma infra-estrutura economica que ja o colocou na condiçao de oitava economia do planeta.
Nao esta na hora do Brasil aproveitar a crise e agregar valor industrial nas nossas materias-primas de exportaçao? Ora, se a China prosperou vendendo quinquilharias, por que nao podemos enriquecer exportando produtos nobres: alimentos, insumos agricolas e etc?
05/12/2008 9:43

AFINIDADE

AFINIDADE
Artur da Távola


Não é o mais brilhante,
mas é o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
Não importa o tempo, a ausência,
os adiantamentos, a distância, as impossibilidades.

Quando há AFINIDADE,
qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa,
o afeto, no exato ponto
de onde foi interrompido.

AFINIDADE é não haver
tempo mediante a vida.
É a vitória do adivinhado sobre o real,
do subjetivo sobre o objetivo,
do permanente sobre o passageiro,
do básico sobre o superficial.

Ter AFINIDADE é muito raro,
mas quando ela existe,
não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Ela existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que as
pessoas deixam de estar juntas.

AFINIDADE é ficar longe,
pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que
impressionam, comovem, sensibilizam.

AFINIDADE é receber o que vem
de dentro com uma aceitação
anterior ao entendimento.

AFINIDADE é sentir com...
Nem sentir contra, sem sentir para...
Sentir com e não ter necessidade de
explicação do que está sentindo.
É olhar e perceber.

AFINIDADE é um sentimento singular,
discreto e independente.
Pode existir a quilômetros de distância,
mas é adivinhado na maneira de falar,
de escrever,
de andar,
de respirar.....

AFINIDADE é retomar a relação
no tempo em que parou.
Porque ele (tempo) e
ela (separação) nunca existiram.
Foi apenas a oportunidade dada (tirada)
pelo tempo para que a maturação
pudesse ocorrer e que cada
pessoa pudesse ser cada vez mais.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

pensamentos e maximas

Ciume e querer manter o que se tem;
Cobiça e querer o que nao se tem ;
Inveja e nao querer que o outro tenha.
(Mal Secreto, Zuenir Ventura)


A preguiça e a mae do progresso. Se o homem nao tivesse preguiça de caminhar,nao teria inventado a roda.
(Mario Quintana)

A informatica bem usada.

A informatica sem fundamentos humanistas se corrompe em entretenimento improdutivo. Contrariamente nos paises ricos inumeras empresas contratam filosofos...que ensinam a pensar.

(Marcos Aguinis, O Atroz Encanto de ser Argentino)